INGLATERRA DEVOLVE OSSADAS DE LÍDER ESPIRITUAL DO ZIMBABWE QUE LUTOU CONTRA COLONIZAÇÃO BRITÂNICA

RDD (*) - 17/Fevereiro/2020

Os restos mortais da ex-líder espiritual do povo Shona do Zimbabwe, Mbuya Nehanda, assim como as ossadas de um dos líderes zimbabweanos da Primeira Revolução Chimurenga, Sekuru Kaguvi, devem voltar para casa em abril, depois de serem mantidos como troféus de guerra nos museus de Londres por mais de cem anos, informou o New Zimbabwe.

Mbuya Nehanda e Sekuru Kaguvi são, até hoje, celebrados por sua bravura e pela luta para preservar a sua cultura e resistir à opressão britânica durante a revolução de 1896 a 1897. Os dois foram condenados à morte e enforcados em 1898.

As ossadas de outros 25 combatentes da resistência, bem como um bastão de fala sagrado, também devem ser devolvidos. Segundo o New Zimbabwe, trata-se de restos mortais que eram mantidos em exposição na Abadia de Westminster e nos museus de História Nacional de Londres.

"Após uma pesquisa completa, descobrimos que existem cerca de 27 cabeças que foram levadas e presenteadas à coroa britânica como medalhas de guerra", relata o chefe Makoni, Colgan Zendera.

Segundo esse chefe tradicional, depois 40 anos de independência (do Zimbabwe) já passou a hora de resgatar os restos mortais dos seus heróis. “Nossa cultura diz corretamente que se uma pessoa morre ou é morta em uma terra nativa, essa pessoa só pode descansar se o corpo e a alma se unirem às suas raízes ”, disse.

“Muitas pessoas podem pensar que os crânios não são importantes, mas são muito importantes, e os colonos brancos sabiam que, se levassem apenas a cabeça, desconectariam a conexão entre o corpo e a cabeça, e a pessoa não se tornaria um médium espiritual”, explica Colgan Zendera.

Mbuya Nehanda e Sekuru Kaguvi

POR QUE MBUYA NEHANDA É TÃO REVERENCIADO?

Acredita-se que Nehanda Charwe Nyakasikana, também conhecida como Mbuya Nehanda, seja a encarnação da Nyamhika Nehanda original, cujo espírito vivia com seu povo.

Nyakasikana foi reconhecida como uma encarnação de Nehanda quando nasceu, em meados do século XIX, na vila de Chidamba, em Mashonaland. Ela era a líder espiritual de seu povo e era a guardiã de sua herança, cultura e história.

Quando os britânicos chegaram às suas terras no Zimbabwe, é dito que Nyakasikana os recebeu com uma vaca preta. A líder espiritual, que teve uma enorme influência sobre seu povo, conseguiu convencê-los a não ter medo dos brancos. Por meio dela, os britânicos estabeleceram um ótimo relacionamento com os chefes e as pessoas que negociavam entre si.

No final da década de 1880, os britânicos haviam se estabelecido no Zimbabwe. No entanto, o relacionamento entre eles e os habitantes locais começou a tomar um rumo tóxico quando os britânicos começaram a roubar as terras, capturar pessoas para a escravidão e exigir impostos dos habitantes locais.

Com a mudança dos acontecimentos, Nyakasikana assumiu a responsabilidade de resistir ao domínio ocidental e às suas estruturas sociais forçadas. Ela fez questão de estar presente durante as negociações comerciais e impedir que os britânicos se aproveitassem do povo. Junto com seus mensageiros, ela viajou de vila em vila para incentivar as pessoas a resistir aos ocidentais e suas muitas regras.

Como parte de seus planos de assumir o controle e obter lucro com os habitantes locais no Zimbabwe, os britânicos implementaram o imposto sobre cabanas em 1894, o que levou vários locais a deixar suas terras e a se mudar para áreas segregadas. Isso provocou raiva entre o povo Shona e Ndebele

(*) Com Newzimbabwe.com