BÉLGICA VAI DEVOLVE DENTE DE PATRICE LUMUMBA E O CONGO VAI (EM FIM) ERGUER UM MAUSOLÉU AO SEU HERÓI

TXV(*) -15/dezembro/2020

Lumumba foi líder do Congo na luta contra a dominação da Bélgica, mas acabou fuzilado e seu corpo desapareceu. Um dos seus carrascos guardou um dente de "lembrança".

O presidente da República Democrática do Congo (RDC), Félix Tshisekedi, anunciou na segunda-feira (14) a construção de um mausoléu em memória de Patrice Lumumba, um herói da independência do país, assassinado em 1961.

Segundo o congolês número um, o mausoléu em memória de Patrice Lumumba será construído antes de o país comemorar o 61º aniversário da independência do país, em junho de 2021.

“Paralelamente às comemorações do 61º aniversário da nossa independência, o país mostrará a sua gratidão ao primeiro-ministro Patrice Emery Lumumba, um dos heróis nacionais, cujas relíquias serão repatriadas e que finalmente receberá uma sepultura digna do seu sacrifício pela nação” , disse o presidente Tshisekedi.

O presidente congolês disse que a Bélgica vai devolver os restos mortais do ex-primeiro-ministro, sem maiores detalhes. Os “restos mortais” ou “relíquias” que sobraram do corpo desaparecido de Patrice Lumumba, que os belgas prometeram devolver, é apenas um dos dentes do referido herói.

Lumbumba foi assassinado e seu corpo nunca foi encontrado Um de seus dentes teria sido guardado em Bruxelas por uma das pessoas que participaram de sua execução.

Um tribunal belga disse em setembro passado que o dente deveria ser dado à filha de Lumumba, Juliana Lumumba, que havia escrito uma carta ao rei belga pedindo sua restituição, segundo o site Brussels Times.

Desde 17 de janeiro de 1961, ninguém foi responsabilizado pelo brutal assassinato de Lumumba. Ele foi morto a tiros com dois de seus ministros, Joseph Okito e Maurice Mpolo. No entanto, todos os dedos apontam para perpetradores multinacionais que sancionaram a eliminação de um dos mais bravos políticos e heróis da independência da África, que se mantive firme contra os colonizadores.

Lumumba levou a República Democrática do Congo à independência em 30 de junho de 1960, depois que o país foi transferido do rei Leopoldo II - que o controlou como sua propriedade privada na década de 1880 - para a Bélgica, em 1908 como colônia.

Com apenas três meses no cargo, até a sua morte por fuzilamento, e defendendo fortemente uma África unida, Lumumba transformou o país. Sua morte foi sentida em toda a África, Ele foi filmado em cativeiro e maltratado por soldados sob a autoridade de seu chefe de gabinete Joseph-Desire Mobutu, que assumiria o controle do país após um golpe de Estado.

Joseph-Desire Mobutu assumiu o poder depois da morte de Lumumba, mudou de nome; passou a se chamar Mobutu Sese Seko Nkuku Ngbendu wa Za Banga. Mudou também o nome do país para Zaire, do qual se tornou ditador e ficou para a história contemporânea da África como um dos mais poderosos e autoritários governantes do continente.

Os Estados Unidos, as Nações Unidas e a ex-potência colonizadora, a Bélgica, foram cúmplices do assassinato de Patrice Lumumba, pois observavam enquanto ele era torturado, apesar das cartas que escreveu para proteção durante a Crise do Congo, instigada pelo governo belga.

Mais de três décadas após sua morte, um policial sênior belga, Gerard Soete, revelou que ele e outro ajudante haviam exumado os cadáveres de Lumumba, Okito e Mpolo e "os despedaçaram e os jogaram no ácido".

Porém, em documentário veiculado no mesmo ano na emissora alemã ARD, Soete mostrou dois dentes que, segundo ele, pertenceram a Lumumba. Recentemente, a filha de Soete também mostrou um dente de ouro, que ela disse ter pertencido a Lumumba, durante entrevista a um jornal.

Em julho deste ano, Juliana Amato Lumumba, filha de Lumumba, exigiu a devolução das “relíquias” do pai, em uma carta ao monarca belga, Filipe. Segundo a AFP, as “relíquias” que Juliana afirma na carta são os dentes do pai que foram retirados do corpo após o seu assassinato.

Dois meses depois de sua carta, o Ministério Público Federal da Bélgica anunciou que a família de Lumumba receberá um dente, admitindo que não há como saber se o dente é de Lumumba “já que não poderia haver teste de DNA”.

(*) Com agências